Olá, Leit@r!!
A leitura
do texto extraído da tese intitulada "Escola Aprendente: desafios
e possibilidades postos no contexto da sociedade do conhecimento" da
professora Bonilla me fez passear, transitar, linkar
e chegar em tantos outros textos, na tentativa
de compreender as reflexões que foram trazidas. Naveguei pela
minha memória formativa, passeei pelas publicações dos blogs
de colegas da disciplina, me reconheci nas
idéias trazidas pelo texto "O jeito nova geração" de
Luciana Alvarez e acessei os conhecimentos contidos nas
páginas do capítulo "A Cultura da Virtualidade Real: a integração
da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes
interativas" do livro A Sociedade em Rede de Manuel Castells. Nesta
viagem acabei fazendo um pouso para refletir sobre minha atuação em sala de
aula...
Acho que
todo mundo aqui sabe (?!) que sou professora de Desenvolvimento Pessoal e
Social da OI KABUM! Escola de Arte e Tecnologia. A Kabum! trabalha na formação
de jovens de bairros populares oferecendo cursos gratuitos de Computação
Gráfica, Design, Fotografia e Vídeo. Paralelo a esta formação
"técnica" os jovens tem oportunidade de discutir outros temas
transversais como identidade, família, sexualidade e tantas outras coisas
através das atividades do DPS. Sendo uma escola de Arte e Tecnologia acho que
você, caro leit@r, deve imaginar que eu sou uma expert em
Tecnologias e tudo que diz respeito ao Digital. Bem , eu até achava que não
entendia nada "dessas coisas de máquina" , mas diante das últimas
leituras e conversas na disciplina Educação, Comunicação e Tecnologias
reconheço que me aproximo a cada dia deste universo que não necessariamente tem a ver com máquinas, mas sim com um novo jeito e uma nova forma de ser e estar. Estamos no digital na maedida em que, pensamos, linkamos, navegamos, atualizamos, compartilhamos coisas
em espaços, em todo ou em "nenhum lugar " onde haja interação
social.
Mas você
deve tá achando que consigo fotografar com as Nikons Digitais disponibilizadas
pela escola ou que sei operar programas complexos instalados em sofisticados
Macintosh...engano meu car@! Embora, eu não mexa naquelas máquinas (faço coisas
mais simples como por exemplo, acessar a internet!) minhas aulas acontecem de
maneira cada vez menos técnica e cada vez mais tecnológica!
Como assim? Como atuar em escola de tecnologia sem operar programas e softwares
de ponta? O que quero dizer? É que sendo a minha aula menos técnica minha
atuação e minha visão de educação também não o é (?!). Deixa eu dar um exemplo:
uma das principais características de minha atividade são os intensos
debates já que transitamos e navegamos por temas bastante complexos. Assuntos
que mexem com cada um de nós e que precisam ser discutidos, para serem
ressignificados. Ou não. Meu alunos e alunas dialogam e convivem
com estes e outros assuntos em suas vidas reais e virtuais (e existe essa
diferenciação? ou um está imbricado no outro?). Na hora do debate, um fala, o
outro fala e a partir da fala do outro, um concorda e o outro discorda dando a
minha atividade um aspecto mais dinâmico, onde é possível que se faça
associações entre os argumentos sem que, haja necessariamente, uma sequência
pré-definida para que estas vozes digam algo. Todas as vezes que tentei
controlar meus alunos me dei mal.. Como controlar uma geração líquida, hi-tech? E para
que controlar o fluir das coisas?
Quando
penso em minha prática e de tantos outros educadores que conheci em diversos lugares e contextos, vejo o quanto ela se aproxima das idéias de
hipertextualidade e interatividade trazidos no texto de Bonilla. Hipertextual
pressupõe associações não-lineares, interferências, modificações, onde textos e
informações estão em constante processo de construção-desconstrução, (re)
negociação. Tenho em sala de aula muitos elementos (alunos, livros,
computadores, celulares, professores, a própria escola) que juntos e misturados podem
possibilitar que de uma forma mais fluída saltemos de uma voz a outra, de uma
história pra outra reconfigurando nossos caminhos, explorando e interligando
informações, ampliando possibilidades de leituras e acesso a saberes. Já a Interatividade pressupõe uma outra relação professor e aluno, uma "mudança de fluxo de mão única" (CASTELLS, 1999, P. 363) tão corriqueiros em nossas em escolas, dando lugar processos de descentralização, não linearidade,
incerteza e complexidade o que nos convoca para uma certa abertura, (re)
configuração e (re) planejamento e uma nova relação com o nosso fazer em sala de aula.
Outro
fator em minha prática é que a cada dia tenho aprendido a não encarar a
tecnologia como mero instrumento, recurso, ou um verniz que aplicamos nas
escolas e práticas de ensino tradicionais para que magicamente tudo que é
considerado “antigo”, “arcaico”, “careta” dê lugar a um faz de conta que sou moderno ou contemporaneo. Cercada de máquinas que não sei mexer direito, penso a
Tecnologia e todos os conceitos vinculados a ela (a hipertextualidade,
interatividade,virtualidade,realidade) como estruturante de uma outra
lógica, uma outra cultura (a cibercultura) que nos convoca a repensar e sair do
nosso lugar, ou melhor, migrar para outros lugares... lugares, comunidades virtuais em que estamos o tempo inteiro presentes. Pensar a
tecnologia como metáfora e também como realização pode vir a modificar o nosso cotidiano em sala de aula.
Outros
fatores me fazem pensar que sou menos técnica e mais tecnológica: para começo
de conversa, reconheço que não sou a única detentora/transmissora/facilitadora
de acesso a saberes e conhecimentos. Não. Não sou. Em sala de aula sou mais
costureira de falares, dizeres e saberes que vão hipertextualmente emergindo e
se atualizando naquele aqui e agora, tecendo os fios que conduzem o ontem, o
hoje e o amanhã do que uma professora (no sentido bem tradicional de que esta
palavra nos remete!). Reconheço que a sala de aula não é o único espaço em que
processos de aprendizagem acontecem e que nela, ao invés da ordem, do silêncio,
da fala "pra um de cada vez" é um espaço no qual o caos deve ser
acolhido. Sim o caos, as incertezas e as verdades de cada um que juntas,
costuradas formaram essa colcha de retalhos coloridos, este (...) conjunto de
nós interconectados (...) (CASTELLS, 1999, p. 498) que chamamos de rede
de conhecimento.
Penso que quando descobrimos a potencialidade das novas tecnologias vamos nos distanciando da ideia de ser ela uma ferramenta e isso nos possibilita perceber que somos tecnológicos e não técnicos. Vivemos em um mundo mediado pelas tecnologias, pensá-la apenas como recurso é limitar as suas possibilidades.
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