segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O que há de tecnológico em minha aula?

Olá, Leit@r!!

A leitura do texto extraído da tese intitulada "Escola Aprendente: desafios e possibilidades postos no contexto da sociedade do conhecimento" da professora Bonilla me fez passeartransitarlinkar  chegar em tantos outros textos, na tentativa de compreender as reflexões que foram trazidas. Naveguei pela minha memória formativa, passeei pelas publicações dos blogs de colegas da disciplina, me reconheci nas idéias trazidas pelo texto "O jeito nova geração" de Luciana Alvarez e acessei os conhecimentos contidos nas páginas do capítulo "A Cultura da Virtualidade Real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes interativas" do livro A Sociedade em Rede de Manuel Castells. Nesta viagem acabei fazendo um pouso para refletir sobre minha atuação em sala de aula... 

Acho que todo mundo aqui sabe (?!) que sou professora de Desenvolvimento Pessoal e Social da OI KABUM! Escola de Arte e Tecnologia. A Kabum! trabalha na formação de jovens de bairros populares oferecendo cursos gratuitos de Computação Gráfica, Design, Fotografia e Vídeo. Paralelo a esta formação "técnica" os jovens tem oportunidade de discutir outros temas transversais como identidade, família, sexualidade e tantas outras coisas através das atividades do DPS. Sendo uma escola de Arte e Tecnologia acho que você, caro leit@r, deve imaginar que eu sou uma expert em Tecnologias e tudo que diz respeito ao Digital. Bem , eu até achava que não entendia nada "dessas coisas de máquina" , mas diante das últimas leituras e conversas na disciplina Educação, Comunicação e Tecnologias reconheço que me aproximo a cada dia deste universo que não necessariamente tem a ver com máquinas, mas sim com um novo jeito e uma nova forma de ser e estar. Estamos no digital na maedida em que, pensamos, linkamos, navegamos, atualizamos, compartilhamos coisas em espaços, em todo ou em "nenhum lugar " onde haja interação social. 

Mas você deve tá achando que consigo fotografar com as Nikons Digitais disponibilizadas pela escola ou que sei operar programas complexos instalados em sofisticados Macintosh...engano meu car@! Embora, eu não mexa naquelas máquinas (faço coisas mais simples como por exemplo, acessar a internet!) minhas aulas acontecem de maneira cada vez menos técnica e cada vez mais tecnológica! Como assim? Como atuar em escola de tecnologia sem operar programas e softwares de ponta? O que quero dizer? É que sendo a minha aula menos técnica minha atuação e minha visão de educação também não o é (?!). Deixa eu dar um exemplo: uma das principais características de minha atividade são os intensos debates já que transitamos e navegamos por temas bastante complexos. Assuntos que mexem com cada um de nós e que precisam ser discutidos, para serem ressignificados. Ou não. Meu alunos e alunas dialogam e convivem com estes e outros assuntos em suas vidas reais e virtuais (e existe essa diferenciação? ou um está imbricado no outro?). Na hora do debate, um fala, o outro fala e a partir da fala do outro, um concorda e o outro discorda dando a minha atividade um aspecto mais dinâmico, onde é possível que se faça associações entre os argumentos sem que, haja necessariamente, uma sequência pré-definida para que estas vozes digam algo. Todas as vezes que tentei controlar meus alunos me dei mal.. Como controlar uma geração líquida, hi-tech? E para que controlar o fluir das coisas?  

Quando penso em minha prática e de tantos outros educadores  que conheci em diversos lugares e contextos, vejo o quanto ela se aproxima das idéias de hipertextualidade e interatividade trazidos no texto de Bonilla. Hipertextual pressupõe associações não-lineares, interferências, modificações, onde textos e informações estão em constante processo de construção-desconstrução, (re) negociação. Tenho em sala de aula muitos elementos (alunos, livros, computadores, celulares, professores, a própria escola) que juntos e misturados podem possibilitar que de uma forma mais fluída saltemos de uma voz a outra, de uma história pra outra reconfigurando nossos caminhos, explorando e interligando informações, ampliando possibilidades de leituras e acesso a saberes. Já a Interatividade pressupõe uma outra relação professor e aluno,  uma "mudança de fluxo de mão única" (CASTELLS, 1999, P. 363) tão corriqueiros em nossas em escolas, dando lugar processos de descentralização, não linearidade, incerteza e complexidade o que nos convoca para uma certa abertura, (re) configuração e (re) planejamento e uma nova relação com o nosso fazer em sala de aula.   

Outro fator em minha prática é que a cada dia tenho aprendido a não encarar a tecnologia como mero instrumento, recurso, ou um verniz que aplicamos nas escolas e práticas de ensino tradicionais para que magicamente tudo que é considerado “antigo”, “arcaico”, “careta” dê lugar a um faz de conta que sou moderno ou contemporaneo. Cercada de máquinas que não sei mexer direito, penso a Tecnologia e todos os conceitos vinculados a ela (a hipertextualidade, interatividade,virtualidade,realidade) como estruturante de uma outra lógica, uma outra cultura (a cibercultura) que nos convoca a repensar e sair do nosso lugar, ou melhor, migrar para outros lugares... lugares, comunidades virtuais em que estamos o tempo inteiro presentes. Pensar a tecnologia como metáfora e também como realização pode vir a modificar o nosso cotidiano em sala de aula. 

Outros fatores me fazem pensar que sou menos técnica e mais tecnológica: para começo de conversa, reconheço que não sou a única detentora/transmissora/facilitadora de acesso a saberes e conhecimentos. Não. Não sou. Em sala de aula sou mais costureira de falares, dizeres e saberes que vão hipertextualmente emergindo e se atualizando naquele aqui e agora, tecendo os fios que conduzem o ontem, o hoje e o amanhã do que uma professora (no sentido bem tradicional de que esta palavra nos remete!). Reconheço que a sala de aula não é o único espaço em que processos de aprendizagem acontecem e que nela, ao invés da ordem, do silêncio, da fala "pra um de cada vez" é um espaço no qual o caos deve ser acolhido. Sim o caos, as incertezas e as verdades de cada um que juntas, costuradas formaram essa colcha de retalhos coloridos, este (...) conjunto de nós interconectados (...) (CASTELLS,  1999, p. 498) que chamamos de rede de conhecimento.  







Um comentário:

  1. Penso que quando descobrimos a potencialidade das novas tecnologias vamos nos distanciando da ideia de ser ela uma ferramenta e isso nos possibilita perceber que somos tecnológicos e não técnicos. Vivemos em um mundo mediado pelas tecnologias, pensá-la apenas como recurso é limitar as suas possibilidades.

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