domingo, 3 de novembro de 2013

oh! Cibercidadão! O cidadão da nova civilização!

Boa noite, caro leit@r?
Como se estabelecem as relações de Cidadania na Sociedade da Informação? Me deparei com esta pergunta ao ler o texto "As vozes dos cidadãos nas ágoras do ciberespaço" produzido por Ugo Mello e na velocidade de um hiperlink acessei às reflexões do texto "Para uma Genealogia da Cidadania Digital" de Tomás Patrocínio. Mas antes de dialogar com estes textos, dei um clique (involuntário?!) em minha memória e fui me parar lá na adolescência quando aos 16 anos, comecei a escutar pela primeira vez a palavra Cidadania. 

Já naquela época cidadania pra mim, era um conceito muito abstrato. Uma coisa "de lá de longe" (como dizia minha avó), algo a ser buscado ou algo que alguém (provavelmente mais cidadão que eu)iria me oferecer. Eu achava que para ser cidadão, seria preciso me enquadrar a um certo perfil pré estabelecido. Aprendi que Cidadão é aquele que tem todos os direitos garantidos (sim, verdade) cumpre todos os deveres (sim, verdade) vota (hunhum...)não joga lixo no chão (yes!) desliga a tv e vai ler um livro de Marx ou Clarice Lispector (não vale best seller de banca de revista!). Daí eu me perguntava: E eu que não faço nada disso sou o quê então? Cidadã? Hoje me pergunto: Se o conceito de cidadania é ligado a participação ativa na Polis (cidade) pixadores, prostitutas, sacizeiros, moradores de rua são cidadãos? Vamos pensando... 

Muitos projetos sociais e/ou escolas que eu conheci (e conheço) sempre quis (e quer) "formar cidadão" para alguma coisa que parece estar para além dele. Justificativas do tipo: "Este projeto servirá para formar o cidadão do novo milênio...ou esta ação formará PARA a cidadania e PARA que o sujeito se "adeque" (sim, adequar!) a um modelo de sociedade que alguem mais cidadão que eu considera ideal é muito comum nos discursos de ontem e hoje. Parece uma coisa assim: se queres ser cidadão se adequa a essa sociedade...seja ela racista, sexista, machista, excludente e coisa tal...

Nesse sentido, o texto de Patrocínio traça uma trajetória muito interessante acerca do conceito de cidadania até chegar no conceito de cidadania digital. Gosto muito das idéias de Madec e Murard (1998) presentes neste texto, já que estes autores trazem a perspectiva ontológica da cidadania. Aqui ela é colocada como algo que nos a-con-tece. Entre virtualidades e realidades ela se atualiza na nossa relação com o outro, com a coletividade e está muito ligada ao ser, a uma condição de natureza (Aristóteles também pensa assim) e, portanto, a condição do homem (e da mulher) na sociedade. Patrocínio ainda diz que "Nasce simultaneamente pessoa e cidadão. Pessoalidade e Cidadania são inseparáveis." Ou seja, esse negócio de "formar cidadão" é uma falácia? Vamos acessar nossos links e hipertextos e continuar pensando...

Patrocínio traz reflexões interessantes sobre a relação entre educação, formação, desenvolvimento e exercicio de cidadania e que é preciso se educar NA cidadania e não PARA a cidadania sejam elas nas redes virtuais ou não. Oferecer (ops! será este o verbo coerente como nosso contexto?)conhecimento e informação para as pessoas que estabelecem relações mediadas pelo computador é uma das funções da escola. E é função da escola também educar-se para educar o cidadão desse novo mundo...educar na cidadania digital pressupõe dentre outras coisas que cada aluno e aluna sejam orientados a acessar e a viver de forma "consciente" neste e em outros espaços...educar, mas não limitar ou cercear a liberdade é um de nossos desafios ...  

Ainda na adolescência, percebia o quanto a representação da cidadania esteve vinculada ao institucional, ao poder, ao Estado, a aquisição de direitos e cumprimento de deveres (sim, e isso e verdade né não?!). Mas hoje, ao ler estes dois textos, meu olhar se amplia e vejo que o exercício (não sei se esta é a melhor palavra!) da cidadania e esse cidadão estar presente em nosso cotidiano. Não é uma entidade mitológica e sim, um ser vivente,um ser social, participante ativo da vida em cidade,inserido ou não em condição digna para que esta tal cidadania aconteça...

Voltando a pergunta do inicio do texto:Como se estabelecem as relações de Cidadania na Sociedade da Informação? presente no texto de Ugo Mello me faço outra pergunta: quem é o cidadão da cibercultura? Se cidadania sempre esteve ligada a um locus e a a um território, polis, como exercer cidadania em outros espaços-tempo, em outras comunidades e em formas online de participação e sociabilidade? Se a Cidadania hoje, já pode ser pensada como algo que se atualiza para além das fronteiras de um determinado território, as (inter)ações de coletivos como o Grupo Avazz, Movimento VemPraRua, Movimento Bora Marcia (este não tão nacional) e tantos outros podem ser utilizados como exemplo de exercicio (mais uma vez a palavrinha feia) de cidadania, mobilização e formação de redes, via rede. Mesmo quem está offline ouve as vozes dos Netizen que ecoam no ciberespaço (será?!)

E vc, caro leit@r, é cidadão? Já VIVEU sua cidadania hoje?





3 comentários:

  1. Oi Daiane, gostei bastante do seu texto...a relação que fez entre "As vozes dos cidadãos nas ágoras do ciberespaço" produzido por Ugo Mello e na velocidade de um hiperlink acessei às reflexões do texto "Para uma Genealogia da Cidadania Digital" de Tomás Patrocínio é super interessante. A maneira como revisitou a sua memória destacando os conceitos que tinha sobre Cidadania e como vc dialogou com os autores foi riquíssimo!

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  2. Massa suas linkagens, lembrei de mim mesma, na minha adolescência, que pensava que a cidadania era um título a ser concedido por Outrem que nos "transformava" em cidadãos, a cidadania como algo mais institucional, fora de nós. Ao entrar no âmbito da Universidade que percebi com o auxílio dos estudos em ADF que era justamente esse pensamento que os que de certa forma detêm o poder queria que estivesse enraizada em nossas mentes de minoria maioritária. Esse texto de Patrocínio alarga ainda mais as minhas noções, principalmente quando torna nítido que pessoalidade e cidadania são ontologias inseparáveis... Massa suas percepções!!!

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  3. Olá Daiane. Gostei muito do seu texto. na verdade gosto muito dos seus textos. Realmente, como disse "Muitos projetos sociais e/ou escolas que eu conheci (e conheço) sempre quis (e quer) "formar cidadão" para alguma coisa que parece estar para além dele. Justificativas do tipo: "Este projeto servirá para formar o cidadão do novo milênio...ou esta ação formará PARA a cidadania e PARA que o sujeito se "adeque" (sim, adequar!) a um modelo de sociedade que alguém... considera ideal..." Somos todos cidadãos, mas nem sempre "exercemos" a cidadania, por mil fatores. Veja s´, hoje fui "convocada" a comparecer em uma audiência, por conta de um assalto que sofri há meses atrás em um coletivo. Recebi a intimação e nesta consta a seguinte frase que não me sai da mente, diz mais ou menos o seguinte: "em caso de não comparecimento será acompanhada até o local da audiência acompanhada por um oficial de justiça, ou COERCITIVAMENTE pela polícia"!!!!! Deveria ter o direito de dizer não quero ir. Mas se assim o fizer sairei da condição de vítima e passarei para réu, opositora da lei... Que cidadania é essa? Somos todos cidadãos, mas muitas, e na maioria das vezes exercemos "nossa" cidadania ao "gosto" alheio.

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